Manifesto 2023

Manifesto 2023

Sempre que iniciamos um novo ciclo fazemos um balanço do que fizemos, o que deixamos de fazer e como podemos evoluir.
Nascemos formalmente em março de 2020, 11 dias antes de decretada a pandemia de COVID 19. Naquele momento pensamos que éramos natimortos, já que nossa essência era pautada pela criação de relacionamentos e esses relacionamentos se davam essencialmente de forma presencial. Porém, vimos uma mudança cultural da forma como interagimos na sociedade e que permitiu criar e manter vínculos de forma digital. Conseguimos rapidamente nos adaptar e, apesar de todos os desafios, pudemos conectar 48 organizações em nossa rede de parcerias. Com esses parceiros desenvolvemos projetos com jovens de 24 estados do Brasil, criamos o primeiro Centro de Tecnologia em uma escola pública do interior, apoiamos a criação de uma política pública no Nordeste, fizemos um programa de mentoria para jovens do estado de SP interessados em entrar na área de tecnologia, encontramos diamantes brutos das Olimpíadas Brasileira de Matemática e os colocamos em empresas de tecnologia e criamos o primeiro programa de Aprendizagem para a área de TI. Isso tudo com muito poucos recursos e muita vontade das pessoas e empresas que, voluntariamente, dedicaram seu tempo e recursos para que isso acontecesse.
Ao mesmo tempo que fomos realizando esses projetos, fomos entendendo como trabalhar em rede, o que é um grande desafio, pois, para que esta seja eficaz é necessário entender a dinâmica das organizações, suas missões e objetivos, de forma que possamos alinhá-los em torno de metas comuns a todos. Só assim podemos convergir os esforços de forma genuína para que os projetos possam ser executados de forma exitosa. Creio que esse foi um aprendizado importante para a seleção e manutenção de parceiros na rede: entender como ele agrega valor ao conjunto e como mantê-lo engajado nas atividades desenvolvidas.
No MFD acreditamos que o “motor do crescimento” está na conexão entre três elementos fundamentais: Rede de Parceiros, Conhecimento sobre os Jovens e oferta de serviços para que eles consigam caminhar até o emprego na área da Tecnologia.
Do ponto de vista do público alvo, definimos que são jovens de 16 a 24 anos e em situação de vulnerabilidade. Buscamos também um foco em não brancos e no gênero feminino. Tivemos muitas surpresas positivas com a descoberta de talentos escondidos pela pobreza e pela falta de oportunidades. Porém, só tocamos o topo da ponta do iceberg.
O MFD em números: 2.000.000 de jovens impactados pelas campanhas, 10.000 inscritos na base do MFD, 1.416 jovens formados nos programas, 120 jovens empregados.
Outro aspecto importante desses três anos foi a criação do Conselho Consultivo do Meu Futuro Digital que, com executivos e executivas entusiasmados e ativos, gerou um novo impulso de energia e estímulo para continuarmos a caminhar e aprimorar nossas ações.
Concluindo: Acreditamos que o modelo do MFD funciona, preenche um espaço no mercado para melhorar a alocação de recursos em iniciativas que já se mostraram bem sucedidas, sem a necessidade de criar novas ou e que podemos obter bons resultados com essa abordagem para os três públicos com que atuamos: jovens, parceiros e empresas.

Como podemos ampliar nossa atuação

“Nós escolhemos ir para a Lua! Nós escolhemos ir para a Lua… Nós escolhemos ir para a Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis; porque esse objetivo servirá para organizar e medir o melhor das nossas energias e habilidades, porque o desafio é um que estamos dispostos a aceitar, um que não estamos dispostos a adiar e um que temos a intenção de vencer, e os outros, também.” John Kennedy

No período da pandemia tivemos uma grande transformação digital, que fez com que muitas empresas revisitassem suas estratégias e ampliassem seus investimentos em tecnologia, criando demanda ainda maior para novos talentos. Apesar de termos milhares de vagas em aberto, as empresas buscam profissionais experientes para atender suas demandas de curto e médio prazos, deixando pouco ou nenhum espaço para profissionais no início da carreira. Em conversa com executivos das empresas de tecnologia que fazem projetos de desenvolvimento de software, identificamos que seus clientes não querem profissionais sem experiência e, muitas vezes, vetam sua participação nos projetos, mesmo sem custo. Ou seja, temos uma grande contradição: milhares de vagas abertas, e milhares de jovens talentos que buscam seu primeiro emprego em TI. Como conciliar essa dissonância? A seguir apresentamos algumas alternativas.

1 – Concertação com empresas: Programa Primeiro Emprego TECH

A sociedade tem pressionado as empresas por iniciativas ESG que tem como objetivo criar um modelo mais sustentável do ponto de vista ecológico, social e de governança. Muitas empresas estabeleceram orçamentos para suas iniciativas sociais e acreditamos que a combinação desses orçamentos com programas para inserção produtiva de jovens pode ser um caminho para resolver parte do problema do primeiro emprego em TI. Ao utilizar essas verbas para subsidiar programas de atração de jovens qualificados para posições iniciais, criaríamos um círculo virtuoso de geração de emprego, inclusão social e formação de uma base de talentos para preencher as demandas no médio prazo. Haveria também que haver uma concertação desses programas com os clientes dessas empresas de tecnologia de forma a abrir oportunidades em projetos para que esse jovem possa ganhar a experiência necessária para tornar-se produtivo mais rapidamente.
O modelo que propomos é criar um grande programa de formação de jovens com organizações educacionais que tem ampla experiência, já provadas no mercado por sua eficácia e bons resultados de produtividade dos jovens formados em seus programas. Dessa forma, empresas contariam com um pipeline de jovens para seus quadros sem ter a necessidade de investir em programas próprios de formação que demandam recursos e uma gestão constante, sem necessariamente contar com as melhores práticas metodológicas e pedagógicas já desenvolvidas por organizações especializadas no tema.

Jovem Aprendiz TECH

Além da proposta acima, o MFD criou também uma primeira alternativa que é o programa Jovem Aprendiz TECH, que concilia o atendimento às cotas legais de aprendizes com a formação em desenvolvimento WEB, num programa de 1840 horas, que atende a todos os requisitos do ministério do Trabalho.

Jovem Empreendedor TECH

Uma outra alternativa para o primeiro emprego em TI é o fomento para que os criem microempresas individuais para prestação de serviços para as empresas, de forma a contornar as barreiras de contratação que normalmente existem para esse jovem. Muitas empresas têm no estagiário o primeiro cargo da carreira em tecnologia, que tem como pré-requisito que o jovem esteja cursando a faculdade. Além disso, esse jovem precisa apresentar um portfólio de projetos executados, e que poderia ser construído com contratações temporárias. Assim conseguiríamos estabelecer um modelo com menos risco para as empresas e ofereceríamos ao jovem a oportunidade de desenvolver a experiência mínima necessária para entrar no mercado.

2 – Programa PME TECH

Quando falamos em programas para o primeiro emprego em Tecnologia, precisamos pensar nas milhares de pequenas e médias empresas que têm que buscar talentos num mercado altamente competitivo e que muitas vezes não tem a mesma capacidade de atração comparada com as grandes empresas. Esse segmento de mercado fica “espremido” e com grandes dificuldades de atender a demanda de recursos para seus projetos. Além disso, estas empresas muitas vezes não têm condições de montar seu próprio programa de formação devido aos altos custos associados e na sua maioria não demanda grandes volumes de pessoas, muitas vezes buscando até 10 talentos para seus quadros.
Nossa proposta é montar um programa onde essas empresas possam se associar e viabilizar a formação de turmas para formação nas tecnologias demandadas. Acreditamos que para podermos ser eficazes na distribuição desses cursos e termos massa crítica é necessário atuar com entidades de classe que congregam este perfil de empresas, com a ABES e ASSESPRO.

3 – Ampliação das Parcerias com Prefeituras e Empresas

Um dos grandes desafios que enfrentamos é a falta de conhecimento que nossos jovens têm sobre as carreiras em Tecnologia. Muitos não têm ideia das oportunidades e como acessá-las. Nossa proposta é fazer o letramento digital de jovens aproveitando a experiência do programa Juventude Digital, criado em Fortaleza, que esse ano será ampliado para mais de 8000 jovens nas escolas da capital do Ceará, que teve início com a apresentação de um parceiro do MFD especializado na formação de jovens nessa faixa etária.
Desenvolvemos um outro caminho que começamos a trilhar em 2022 com a parceria com empresas e prefeituras para utilização de equipamentos públicos para a implantação de Centros de Tecnologia e Inovação (CTI). O programa começou em uma escola de Quatá/SP juntamente com uma empresa de tecnologia e uma empresa do Agronegócio com plantas na região em parceria com a Secretaria de Educação.
O modelo proposto busca atender à demanda de recursos na região de atuação de empresas que poderão apoiar esses programas adotando escolas e se beneficiando com a contratação de jovens na região em que atuam.

Conclusão

O grande desafio que temos nesse momento é escalarmos essas formações de forma a buscar atingir o maior número de jovens no Brasil e para isso precisamos de uma articulação com diversos atores do ecossistema para atração, formação e emprego. O Meu Futuro Digital mostrou que isso é possível, mas para podermos crescer em número de jovens e empresas é necessário investir em uma grande concertação entre os diversos atores do mercado de forma estruturada em eficiente.

José Vinicius Da Silva Da Silva